Um dia desses aí, numa fresca manhã, Junior havia levantado cedo, como de costume, por volta das seis horas. Nesse ínterim uma parca neblina cobria a copa de algumas árvores num amplo e declinado curral. Uma beleza estonteante contemplou a vista do garoto quando o sol que se erguia a lentos passos por detrás dum pequeno monte ao lado de sua casa, lançou flechas de luz sobre a copa daquelas mesmas árvores penetrando a quase nula neblina.
Quando a coluna de névoa se esvaiu, ele pode ver com os olhos brilhantes e o rosto acariciado por refrescante brisa, a fontinha onde alguns cabritos e bois, e a novilha Rosa Branca pastarem e beberem água ali perto. Além da fonte Junior podia ver uma singela horta, em variados tons de verde mais à esquerda e um lindo e colorido pomar à direita. Observando o pomar, desejou as vermelhas maças que brilhavam, nas organizadas fileiras, como bolinhas numa árvore de natal. Antes de poder contemplar a beleza dos mamoeiros e das flores de maracujá que pendiam da cerca ao lado um forte cheiro de café penetrou-lhes a narina. Aquela sensação rotineira fez Junior tomar uma decisão ousada e quando se deu por si, estava dividido simetricamente pela farpada cerca que o separava do curral e do glorioso pomar, do éden jardim. Mas quando no meio da ousada atitude ecoou um grito:
– Ôoo, Juninho! Vem tomar café menino. Percebendo a demora na resposta, dona Maricota, insistiu com ímpeto, autoridade e força: Junior!
Juninho era um menino magricelo de oito anos com os olhos fundos e a barriga estufada, tinha todos os sintomas de lombrigas diversas. Após o grito, o menino assustado, sem camisa, só de short e de pés descalços estremeceu entre o paralelo farpado que o separava do curral. Balançou e quando tentou recuar o amarelado short enganchou nos arames. Lutou com força até que o shorts ganhou um rasgão. Por sorte não se lascou no farpado. Mas agora sua mãe já estava parada a observá-lo.
– Que é que tu ta fazendo aí menino? Já num disse pra você não atravessar essa cerca? Arrede pra dentro.– Ta mãe. Eu só queria comer uma maçã.– Não quero saber de explicação. Vamos.
Entraram na pequenina casinha, coisa de quatro curtas paredes e três cômodos. As paredes davam sinais de todo o desgaste temporal, pois o mofo corroia-lhes os pés. Na sala um sofá antigo e escrachado, uma máquina de costurar puro ferro que servia de banca para o radinho AM/FM. Na cozinha o fogão a lenha soltava labaredas volumosas que corroíam a madeira e nada mais, além de manchar as ripas corroídas do telhado.
– Come aí que vamos na rua levar a roupa da dona.– Certo. Respondeu cabisbaixo. Mãe, posso fazer uma pergunta?– Mais uma, não é? Pode sim.
Juninho com a curiosidade da infância lança a inocente pergunta: – Porque tem tanta terra lá do lado da casa do doutor Manoel e do nosso lado só tem isso?
– Ora... Ques pergunta são essa, menino? O homem é político, por isso tem tanta riqueza. Além do mais ele nos ajuda dando cesta básica.– Mas, mãe. Eu queria maçãs e aquelas frutas lá do curral. E essas compra que ele da pra nós num instante acaba e ele demora um tempão... um tempão para dar outra.– Ó. Eu vou lhe explicar como a coisa funciona. Um político precisa de votos. Então, o seu Manoel promete a nós que nos beneficia se a gente votar nele. Então nós vota.– E se a gente não votar nele, o que acontece mãe?– Ele não ganha e nós também não ganha. Porque se um político ruim entrar não vai dar cesta básica pra gente e remédio pra gente.– E como é que ele sabe que nós não votou nele?
Um silêncio reticente abateu o ambiente rapidamente.
– E eu sei, ué?– Então, mãe, a gente não pode procurar um político melhor, que da mais coisa pra gente?
Dona Maricota uma senhorita de uns trinta anos, cabelos lisos e penteados, tez clara, mas bronzeada pelo abuso involuntário do sol diário. Linda, mas descuidada e abandonada; achou interessante as reflexões do filho e ponderou enquanto pôs cuscuz num prato plástico azulado e café num caneco de mesma cor para Junior. Ao mesmo tempo recolhe uma xícara num pequeno armário ao lado do forno a lenha e se serve com um menor de café. Dirige-se até a porta dos fundos e senta-se no batente dando leves beliscadas na bebida matinal.
– E eu sei?– Sabe o que mãe?– Eu acho que a gente podia encontrar um político melhor que dá mais coisas pra gente.
Contente com a idéia da mãe, que por ora foi também sua. Juninho sorridente completa:
– É... aí nós pode comer maçã de manhã. E quando é que nós tem que votar, mãe?– Você não votar, menino. Só de maior pode votar, ou então quando você fizer 16 anos, se quiser. A próxima eleição é só em 2012.– Haaa! Pensei que era coisa de todo dia.– Quando for na cidade pergunto às pessoas de lá, que são mais informada, quem são os político melhor que o seu Manoel.– É... aí quando ele vier pedir a senhora pra votar nele a senhora diz que vota, mas que vai querer um bocado de maçã da roça dele e mais um monte de coisas, né mãe?- É Junhinho...
Finda a refeição, o café e a conversa; dona Maricota recolhe o prato do menino e se dirige ao quintal e coloca numa pia de improviso, ao lado pega uma vassoura de folha de rabugem e se dirige ao curtíssimo terreiro para apartar algumas folhas secas trazidas pelo vento da grandessíssima fazenda do Doutor Manoel. Logo atrás dela chegava o menino no encalço. Ele parou e observou a beleza das flores do maracujá que trepavam junto a cerca, observou e observou. De repente um Jeep saia da fazenda lentamente...
– Olha Juninho, não morre mais...
Dona Maricota interrompeu a varredura e parou a observar a passagem do imponente carro do doutor. Juninho correu, a abraçou e enquanto passava o monstro de metal, ambos acenavam sorridentes para o bigodudo político, fazendeiro, coronel que se esvaiu deixando somente poeira para trás.
Quando a coluna de névoa se esvaiu, ele pode ver com os olhos brilhantes e o rosto acariciado por refrescante brisa, a fontinha onde alguns cabritos e bois, e a novilha Rosa Branca pastarem e beberem água ali perto. Além da fonte Junior podia ver uma singela horta, em variados tons de verde mais à esquerda e um lindo e colorido pomar à direita. Observando o pomar, desejou as vermelhas maças que brilhavam, nas organizadas fileiras, como bolinhas numa árvore de natal. Antes de poder contemplar a beleza dos mamoeiros e das flores de maracujá que pendiam da cerca ao lado um forte cheiro de café penetrou-lhes a narina. Aquela sensação rotineira fez Junior tomar uma decisão ousada e quando se deu por si, estava dividido simetricamente pela farpada cerca que o separava do curral e do glorioso pomar, do éden jardim. Mas quando no meio da ousada atitude ecoou um grito:
– Ôoo, Juninho! Vem tomar café menino. Percebendo a demora na resposta, dona Maricota, insistiu com ímpeto, autoridade e força: Junior!
Juninho era um menino magricelo de oito anos com os olhos fundos e a barriga estufada, tinha todos os sintomas de lombrigas diversas. Após o grito, o menino assustado, sem camisa, só de short e de pés descalços estremeceu entre o paralelo farpado que o separava do curral. Balançou e quando tentou recuar o amarelado short enganchou nos arames. Lutou com força até que o shorts ganhou um rasgão. Por sorte não se lascou no farpado. Mas agora sua mãe já estava parada a observá-lo.
– Que é que tu ta fazendo aí menino? Já num disse pra você não atravessar essa cerca? Arrede pra dentro.– Ta mãe. Eu só queria comer uma maçã.– Não quero saber de explicação. Vamos.
Entraram na pequenina casinha, coisa de quatro curtas paredes e três cômodos. As paredes davam sinais de todo o desgaste temporal, pois o mofo corroia-lhes os pés. Na sala um sofá antigo e escrachado, uma máquina de costurar puro ferro que servia de banca para o radinho AM/FM. Na cozinha o fogão a lenha soltava labaredas volumosas que corroíam a madeira e nada mais, além de manchar as ripas corroídas do telhado.
– Come aí que vamos na rua levar a roupa da dona.– Certo. Respondeu cabisbaixo. Mãe, posso fazer uma pergunta?– Mais uma, não é? Pode sim.
Juninho com a curiosidade da infância lança a inocente pergunta: – Porque tem tanta terra lá do lado da casa do doutor Manoel e do nosso lado só tem isso?
– Ora... Ques pergunta são essa, menino? O homem é político, por isso tem tanta riqueza. Além do mais ele nos ajuda dando cesta básica.– Mas, mãe. Eu queria maçãs e aquelas frutas lá do curral. E essas compra que ele da pra nós num instante acaba e ele demora um tempão... um tempão para dar outra.– Ó. Eu vou lhe explicar como a coisa funciona. Um político precisa de votos. Então, o seu Manoel promete a nós que nos beneficia se a gente votar nele. Então nós vota.– E se a gente não votar nele, o que acontece mãe?– Ele não ganha e nós também não ganha. Porque se um político ruim entrar não vai dar cesta básica pra gente e remédio pra gente.– E como é que ele sabe que nós não votou nele?
Um silêncio reticente abateu o ambiente rapidamente.
– E eu sei, ué?– Então, mãe, a gente não pode procurar um político melhor, que da mais coisa pra gente?
Dona Maricota uma senhorita de uns trinta anos, cabelos lisos e penteados, tez clara, mas bronzeada pelo abuso involuntário do sol diário. Linda, mas descuidada e abandonada; achou interessante as reflexões do filho e ponderou enquanto pôs cuscuz num prato plástico azulado e café num caneco de mesma cor para Junior. Ao mesmo tempo recolhe uma xícara num pequeno armário ao lado do forno a lenha e se serve com um menor de café. Dirige-se até a porta dos fundos e senta-se no batente dando leves beliscadas na bebida matinal.
– E eu sei?– Sabe o que mãe?– Eu acho que a gente podia encontrar um político melhor que dá mais coisas pra gente.
Contente com a idéia da mãe, que por ora foi também sua. Juninho sorridente completa:
– É... aí nós pode comer maçã de manhã. E quando é que nós tem que votar, mãe?– Você não votar, menino. Só de maior pode votar, ou então quando você fizer 16 anos, se quiser. A próxima eleição é só em 2012.– Haaa! Pensei que era coisa de todo dia.– Quando for na cidade pergunto às pessoas de lá, que são mais informada, quem são os político melhor que o seu Manoel.– É... aí quando ele vier pedir a senhora pra votar nele a senhora diz que vota, mas que vai querer um bocado de maçã da roça dele e mais um monte de coisas, né mãe?- É Junhinho...
Finda a refeição, o café e a conversa; dona Maricota recolhe o prato do menino e se dirige ao quintal e coloca numa pia de improviso, ao lado pega uma vassoura de folha de rabugem e se dirige ao curtíssimo terreiro para apartar algumas folhas secas trazidas pelo vento da grandessíssima fazenda do Doutor Manoel. Logo atrás dela chegava o menino no encalço. Ele parou e observou a beleza das flores do maracujá que trepavam junto a cerca, observou e observou. De repente um Jeep saia da fazenda lentamente...
– Olha Juninho, não morre mais...
Dona Maricota interrompeu a varredura e parou a observar a passagem do imponente carro do doutor. Juninho correu, a abraçou e enquanto passava o monstro de metal, ambos acenavam sorridentes para o bigodudo político, fazendeiro, coronel que se esvaiu deixando somente poeira para trás.
Belo post você tem talento parabéns...
ResponderExcluirsucesso!
O diálogo de Juninho e sua mãe sobre política foi um pouco engraçado e ao meu tempo preocupante, pois nem uma criança ou um adulto têm geralmente certeza do que seja o voto. Sobretudo nas classes mais pobres.
ResponderExcluirÉ disso que precisamos, de questionamentos.
ResponderExcluirSeu texto é muito bom
ResponderExcluiré isso mesmo.... isso que esta faltando..."????"
bom blog
http://leticiaturtle.wordpress.com/2011/02/07/reclamar-vs-criticar/
Vc escreve muito bem
ResponderExcluirparabéns
http://vivaiona.blogspot.com/
Achei o texto bem acessível.. gostoso de ler e curioso... gostei!
ResponderExcluir;D
apesar de longo fui ate o final gostei do texto do tema da argumentação.
ResponderExcluirParabens li outros posts e gostei tb
bju
Nossa cara, fiquei absolutamente apaixonado pelo seu texto. Vc traz uma descrição de detalhes fantastica. Imaginei perfeitamente tudo, até as tais maçãs que o garoto queria.
ResponderExcluirMelhor do que isso, vc embutiu uma questão política que há anos perdura no nosso país: um politico que vende votos, e assim, consegue manter-se no poder e a ocupar terras desigualmente distribuidas.
Parabéns, seu blog é excelente. Tá a fim de trocar links? Será um prazer adicioná-lo aos favoritos, te indicando a outros leitores do meu blog.
Um abraço!!
Danilo Moreira
http://blogpontotres.blogspot.com/
mto bom cara,continue assim :)
ResponderExcluirgostei do seu jeito de escrever. Sua descrição mexe com os sentidos e nos "puxa" pra dentro da história. Muito bom.
ResponderExcluirBeijoos.
http://agarotaquetemquasetudo.blogspot.com/